Lyson Gaster
no Borogodó retrata a história da atriz Lyson Gaster, nome artístico de
Agostinha Belber Pastor, espanhola criada em Piracicaba, que com sua companhia
de teatro de revista viajou o Brasil nos anos 20, 30 e 40.
Com patrocínio
do Magazine Luiza e apoio do projeto ‘Eu faço cultura’ o espetáculo será
apresentado no Teatro Erotides de Campos dia 7/3, às 20 h.
É bem provável
que o pessoal do teatro musical de hoje nunca tenha ouvido falar em seu nome. Para
nossa sorte, dedicados pesquisadores do gênero conseguiram recuperar parte da
memória cultural brasileira e colocaram foco em Lyson Gaster.
Para
homenagear a atriz e cantora nascida na Espanha e criada em Piracicaba, no
Interior de São Paulo, depois naturalizada brasileira e que se consagrou nas
décadas de 1920 a 1948.
Com pesquisa
de Maria Eugenia de Domenico, dramaturgia de Fábio Brandi Torres, direção e
figurinos de Carlos ABC, produção e cenários de Marcos Thadeus e direção
musical de Tato Fischer, o espetáculo tem a proposta de retratar aspectos da
vida da atriz Lyson Gaster, revigorando fatos importantes dos palcos
brasileiros e resgatando parte da história cultural do País. Por seu talento e
coragem, ela foi elogiada por artistas e críticos como Procópio Ferreira,
Henriette Morineu, Pedro Bloch, Rachel de Queiroz, Paschoal Carlos Magno, Eva
Todor, Mario Lago e Nelson Rodrigues, entre outros.
No palco
estão oito atores - Bruno Parisoto, Felipe Calixto, Alexia Twister, Tiago
Mateus, André Kirmayr, Marcos Thadeus, Giovani Tozi e Patrick Carvalho. A
música ao vivo fica por conta dos músicos Tato Fischer ao piano e Henrique
Vasques no acordeom e cajón.
Piracicabano,
o produtor e mestre em teatro Marcos Thadeus alimentava o desejo de montar um
espetáculo sobre Lyson Gaster há mais de 20 anos, quando foi apresentado à
história da artista pelo diretor Carlos ABC, também piracicabano. Assim, tratou
de encomendar a pesquisa para montar “um genuíno musical brasileiro.”
Maria
Eugenia de Domenico nunca tinha ouvido falar em Lyson Gaster e, pesquisando,
ficou impressionada com a importância que a artista teve. Eugenia ressalta a
dificuldade de conseguir documentos ao vasculhar um passado completamente
esquecido.
“Quando se consegue
os textos, eles encontram-se em estado precário, ilegíveis pois não foram
digitalizados, sendo comidos por traças. Alguns, datilografados, não consegui
ler.” Eugenia descobriu uma Lyson dramaturga também, que assinou textos sozinha e com o segundo marido, Alfredo
Viviani. “Tivemos sorte e conseguimos um dos últimos textos escritos por ela, A
Mimosa Roceira, que tem trecho incluído na peça.”
Nesta tarefa
árdua, foi fonte de informação importante o livro De pernas para o ar: O teatro
de revista em São Paulo, coleção Aplauso, da diretora e doutora em teatro Neyde
Veneziano. Estudiosa do teatro musical, Veneziano já havia resgatado parte da trajetória
da artista e de outros pioneiros hoje esquecidos, mas que prepararam o palco e
a plateia paulista para as produções musicais de hoje. “É um livro maravilhoso”,
afirma.
“Ela era a
estrela da companhia que tinha o seu nome, às vezes só Companhia Lyson Gaster,
às vezes Companhia de Comédia Lyson Gaster", empolga-se Eugenia ao contar
a história. "Ela exercia uma liderança absurda, era uma companhia grande,
eles viajavam o Brasil todo, não só o interior de São Paulo”, continua.
“Imagine,
naquela época não havia teatro nas cidades, a companhia montava os espetáculos
em cinemas, que geralmente possuíam palcos. Ao lado do segundo marido, ela foi
desbravadora, corajosa e conseguiu ganhar dinheiro, formou os dois filhos (um
em Engenharia, outro em Medicina), que moravam em São Paulo com os avós. Foi
absolutamente bem-sucedida, empregava as duas irmãs com os maridos e o irmão na
companhia, numa composição familiar. Trabalhou por 30 anos, faleceu aos 74 e quando
parou de trabalhar, tinha duas casas - uma no Rio de Janeiro, outra em
Teresópolis.”
Direção
A encenação
de Carlos ABC tem cenas de humor, músicas, figurinos e cenários tipícos.
Personagens revisteiros permeiam a narrativa, como caipiras, portugueses,
coristas e vedetes. “Tudo o que representa o Teatro de Revista e suas convenções
estão preservadas na montagem”, informa Carlos.
As músicas,
clássicos populares da época, ilustram a temática e ajudam a tornar leve o
desenrolar dramático. A cenografia conta com telões de grandes dimensões - 8m
por 4,5 de altura - e a indispensável escadaria, peça característica do teatro
de revista, entre outros elementos cênicos que entram e saem, de acordo com as
cenas. Carlos ABC, que também assina o figurino, conta que as peças “seguem os
modelos da época e convidam o público a um mergulho no passado, já que o
espetáculo expõe passagens da vida da atriz e do aspecto alegórico do teatro
dentro do teatro de revista, da magia dos musicais”.
O
dramaturgo, diretor e tradutor Fábio Brandi Torres também confessa que antes de
começar a escrever o texto da peça não conhecia nada sobre Lyson Gaster, ainda que
tenha estudado a fundo o Teatro de Revista. "O mergulho no universo
desconhecido de Lyson, de sua carreira e de sua companhia, teve a vantagem de
ter a pesquisa de Maria Eugenia de Domenico como guia, com uma estrutura muito
bem concebida, incluindo indicações de músicas (Chiquinha Gonzaga, por exemplo)
e textos (Artur Azevedo, Max Nunes etc).”
A partir do
trabalho de Maria Eugenia, Fábio começou sua pesquisa ouvindo programas de
rádio da época, músicas, lendo textos de peças e de estudos. “Com este material
em mãos, foi um prazer desenvolver esta peça, tendo a liberdade de contar a
história de uma mulher profundamente apaixonada por sua arte, que se dedicou a
levar a companhia que criou para todos os cantos do país.”
“Acho que
esse é um ponto importante para destacar, porque é um fato revelador desse amor
pelo teatro e que precisa ser destacado, já que vivemos uma época em que ele já
não faz mais parte da vida das pessoas e já não existem companhias que se
dedicam a viajar pelo país. Existem algumas produções que conseguem rodar
algumas capitais, mas até isso já é cada vez mais raro. Outra grande questão
que o espetáculo traz é o quanto é efêmera essa arte. Lyson marcou sua época,
foi um nome aclamado por onde passava e hoje, poucos se lembram de seu nome ou
mesmo o conhecem. Por sorte, Marcos e Maria Eugenia se lembraram.”
Sobre a direção musical de Tato
Fischer
Para o roteiro
musical, Tato Fischer garimpou preciosidades como Rua do Ouvidor, usada na
trilha da peça A Capital Federal (1926), de Arthur Azevedo, e reutilizada por
Flávio Rangel na montagem der 1972, que o próprio Tato já incluíra em 1985 em A
Fantasia, também de Arthur Azevedo. Do cancioneiro brasileiro, No Rancho Fundo
e Luar do Sertão também estão na trilha.
“Tenho um
largo interesse no Teatro de Revista, paixão desde sempre no meu trabalho como
ator e diretor teatral.” Depois fui me aprofundando na área e cheguei a fazer,
como ouvinte, um curso na USP, com Neide Veneziano, doutora na área, com quem
montei, em 1993, a revista musical Os Sonhos Mais Lindos, de Perito Monteiro.”
Sobre Lyson Gaster
Filha de
imigrantes espanhóis que chegaram em Piracicaba no final do século 19, casou-se
ao 17 anos e logo teve filhos. Separada,
mudou-se para São Paulo com os pais e trabalhou como modista num ateliê da rua
Conselheiro Crispiniano, onde conheceu artistas de teatro que a levaram para o
palco.
Pisou no
tablado pela primeira vez em 1919, na época dos discos de 78 rotações, adotando
o nome artístico que tomou emprestado de uma personagem de um romance francês.
Ligou-se a
várias companhias de teatro, com as quais viajou pelo Interior de São Paulo,
entre elas a Companhia Cassino Antarctica e a trupe Teatro Novo. Integrou o
elenco da Cia Zaparolli, ao lado de Manuel Pera, pai da atriz Marília Pera. No
Rio, juntou-se a Cia Juvenal Fontes até se casar, em 1922, com Alfredo Viviani.
Com o marido, participou da Cia Nair Alves e Sebastião Arruda, até o casal
montar a própria companhia, a Companhia Lyson Gaster, onde o teatro de revista
era o ponto forte. Os dois excursionaram pelo Brasil todo. Era a época de Dercy
Gonçalves, Oscarito, Henriquieta Brieba, Zilka Salaberry e Mara Rúbia, entre
outros.
Lyson
naturalizou-se brasileira nos anos 40 e deixou o teatro em 1950. Viviani foi
contratado pela Rádio Nacional, onde permaneceu em atuação até 1963.
De Rachel de Queiroz, Procópio
Ferreira a Mário Lago
Em
depoimentos recolhidos pelo piracicabano Waldemar Iglesias Fernandes, reunidos
no livro Lyson Gaster - A Piracicabana que o Brasil Aplaudiu e Nunca Esqueceu, estão
vários elogios à atriz. Da escritora Rachel de Queiroz: “pode-se considerar
Lyson Gaster como uma das pioneiras do teatro ambulante ou mambembe”. Da atriz Henriette
Morineu: “Não somente na sua terra natal, como também no Brasil inteiro, o nome
da grande Lyson Gaster não pode ser esquecido.”
Já a atriz Eva
Todor disse sobre Lyson: “Ela fazia naquele tempo aquilo que hoje o Ministro da
Educação está querendo que os artistas façam: descentralizar o teatro”. Um dos
grandes nomes do teatro brasileiro, Procópio Ferreira se referiu a ela como “uma
pioneira...levou o teatro aos mais longínquos e inacessíveis rincões do solo
brasileiros, o nosso Anchieta de saias. Artista eclética, empolgando plateias,
principalmente no Interior, onde deixou luminoso rastro de sua passagem”. O
poeta, compositor e ator Mário Lago também elogiou: “Lyson Gaster e Viviani
pertenceram a essa turma heroica que foi levando o teatro brasileiro pelo
interior do país, permitindo que populações de cidades pequenas conhecessem o
que se vinha fazendo nos grandes centros”.
SERVIÇO:
Duração: 70
min. Classificação: Livre. Gênero: Revista Musical.
Preços: R$ 40,00
(inteira) e R$ 20,00 (meia)
Bilheteria
do teatro Erotides de Campos: terça á sexta das 15h as 18h
Informações:
3413 -8526 e 3413-5212
Vendas on line: www.megabilheteria.com.br