sexta-feira, 22 de abril de 2016

Perfomance de rua é tema de Fala Pública com Eleonora Fabião

“Não há prática artística que não esteja lidando com forças políticas e que não esteja gerando forças políticas”. A frase da performer e professora Eleonora Fabião reafirma a arte como “percepção e criação de mundo”. Em Fala Pública Performance na Rua: Experimentação Artística e Imaginação Política, que acontece no dia 29 de abril, às 20h, no Clube 13 de Maio, Piracicaba, ela tratará desse e de outros assuntos ligados ao tema. O evento integra a programação do projeto Documentário Vergonha, do Coletivo Bruto e da Cooperativa Paulista de Teatro, com o apoio do ProAC (Programa de Ação Cultural), do Governo do Estado de São Paulo e da Secretaria de Estado da Cultura.

Doutora em Estudos da Performance pela Universidade de Nova Iorque (2006) e professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Eleonora contará sua experiência em centros urbanos. Sua proposta é introduzir ao público as práticas realizadas, além de discutir conceitos que alimentam o trabalho e conversar sobre ética e estética do estranho, do corpo performativo e da imaginação política. Fala Pública não é direcionada apenas a grupos de teatro, conforme ressalta o ator, diretor e fundador do Coletivo Bruto, Paulo Barcellos. “É para todos aqueles que buscam uma atuação política na cidade, em seu sentido amplo. Que buscam um outro olhar e outras formas de se relacionar no espaço comum".

Para a professora, há várias maneiras de fazer a política, sendo o artista um dos agentes da polis. “No caso do performer que trabalha na rua, é explícito o desejo de experimentar, testar, praticar o viver junto, o co-habitar, o coexistir. Particularmente, penso ser fundamental cuidar por meio de práticas artísticas da coisa política, do pensamento político, da vida política no meio da rua”.

Uma das formas de se comunicar, por meio da performance, seja ela atuantemente política ou não, acontece pela estética do estranho. São “modos poéticos, estratégias artísticas, práticas performativas que estranham o estabelecido, que estranham padrões de comportamento, cognição, relação, fluxo. Que estranham nossas mecânicas diárias e, as estranhando, as suspendem”, continua. Para Eleonora, o estranho e a estranheza são modos de conhecimento e de relação, em que nasce a poesia da performance. “Como diz Tania Rivera quando escreve sobre o trabalho que venho desenvolvendo nas ruas, ‘o estranho não é aquele que vem perturbar o idílio do semelhante, mas aquele que é valorizado e, ao mesmo tempo, temido, porque tem o poder de romper as amarras de minha própria identidade e me abrir para outra coisa – que, por falta de nome fixo, denominamos vagamente de poesia’”.

WORKSHOP – Além da Fala Pública, dentro do projeto Documentário Vergonha, Eleonora Fabião realiza um workshop para artistas de Piracicaba com o tema Corpo Performativo. A programação acontecerá nos dias 30 de abril e 1º de maio, com atores de grupos parceiros do projeto e artistas inscritos. A professora abordará a arte da performance por meio de análise de arquivo fotográfico e audiovisual, bem como usando discussão conceitual e práticas psicofísicas. Quatro questões serão tomadas como ponto de partida: o que é corpo? (questão ontológica); o que move um corpo? (questão cinética, energética, afetiva); o que um corpo pode mover? (questão performativa); e que corpo pode mover? (questão biopolítica). Para isso, será usado o princípio da indissociabilidade entre teoria e prática, estética e política, pedagogia e criação.

PERFORMER – Em 2015, Eleonora Fabião integrou a performance No Meio da Noite Tinha um Arco-íris, No Meio do Arco-íris Tem Uma Noite (ação 5 da Série Coisas Que Precisam Ser Feitas). Na intervenção urbana realizada no Festival Performa, em plena Wall Street (Nova York/EUA), um grupo faz resplandecer um arco-íris na noite da cidade. Para tanto, são movimentados juntos sete longos bambus com lâmpadas de tungstênio coloridas amarradas em suas pontas. Mas para Eleonora, a experiência com performance na maior metrópole norte-americana é ainda mais antiga. Ela fez doutorado em Estudos da Performance pela Universidade de Nova Iorque (2006).

Desde então, a teórica e performer realiza intervenções em ruas e exposições, além de dar palestras, workshops e publicar sobre o tema nacional e internacionalmente (Colômbia, Peru, Argentina, EUA, Canadá, Alemanha, Noruega, Suécia, França, Portugal, Emirados Árabes). Em 2011, recebeu o Prêmio Funarte Artes na Rua e em 2014, o apoio do Programa Rumos Itaú Cultural, para desenvolver o Projeto Mundano. Este resultou na publicação do livro AçõesS. É também professora do Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena e do Curso de Direção Teatral da Escola de Comunicação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

PROJETO - O projeto Documentário Vergonha é uma iniciativa do Coletivo Bruto e Cooperativa Paulista de Teatro, foi aprovada pelo ProAC, Edital 1 - Produção de Espetáculo Inédito e Temporada de Teatro, de 2015. Corresponde ao segundo momento de uma pesquisa que o Coletivo Bruto vem realizando em Piracicaba. A primeira parte originou o espetáculo Mentira, que estreou em 2015. “A proposta, desta vez, abrange a formação histórica do interior paulista – utilizando a cidade de Piracicaba como ponto de partida e as relações sócio-econômicas que ainda perduram como força tradicional em detrimento aos desejos ‘progressistas’”, afirma Paulo Barcellos. Segundo ele, em Mentira foi realizada uma leitura crítica sobre a aristocracia local por meio de uma história ficcional com tratamento realista. “Distanciamos a história do cenário local como estratégia dramatúrgica. Agora, neste segundo momento, ampliamos a pesquisa visando, além da criação de um espetáculo, uma ação cultural na cidade”. Outra vez, eles estarão sob a orientação dramatúrgica de Alexandre Dal Farra.

Essa iniciativa, de acordo com o ator, propõe uma investigação mais envolvida com os artistas locais e os habitantes. Além da produção de peça inédita, o projeto consiste na ocupação artística e promoção de oficinas para a comunidade. “Propusemos uma ocupação artística no recém-reaberto Clube 13 de Maio com ensaios, workshop, aula aberta, aberturas de experimentos estéticos e temporada”. Assim, o projeto consiste na ocupação teatral do espaço até setembro; workshop do grupo com pesquisador Thiago Antunes; abertura do processo para dois estagiários; realização de um workshop com Eleonora Fabião para o elenco de Vergonha e grupos convidados de Piracicaba; realização de uma fala pública, aos interessados em geral, sobre a teatralidade e performance; apresentações gratuitas de Experimentos Vergonha 1 e 2; conversas com o público dos Experimentos; e temporada de 15 apresentações gratuitas.

Além dos atores fundadores do Coletivo Bruto, Paulo Barcellos e Maria Tendlau, integram o Projeto Vergonha os atores Jorge Lode, Raul Rozados e Carla Sapuppo.

SERVIÇO
Fala Pública Performance na Rua: Experimentação Artística e Imaginação Política, com a professora e performer Eleonora Fabião

Local: Clube 13 de Maio. Rua 13 de Maio, 1118.
Data: sexta-feira, dia 29 de abril
Horário: 20h
Gratuito


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