“Não há prática
artística que não esteja lidando com forças políticas e que não esteja gerando
forças políticas”. A frase da performer e professora Eleonora Fabião reafirma a arte como “percepção e
criação de mundo”. Em Fala Pública Performance na Rua: Experimentação
Artística e Imaginação Política, que acontece no dia 29 de abril, às
20h, no Clube 13 de Maio, Piracicaba, ela tratará desse e de outros assuntos
ligados ao tema. O evento integra a programação do projeto Documentário
Vergonha, do Coletivo Bruto e da Cooperativa Paulista de Teatro, com o apoio do
ProAC (Programa de Ação Cultural), do Governo do Estado de São Paulo e da
Secretaria de Estado da Cultura.
Doutora em Estudos da
Performance pela Universidade de Nova Iorque (2006) e professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Eleonora contará sua
experiência em centros urbanos. Sua proposta é introduzir ao público as
práticas realizadas, além de discutir conceitos que alimentam o trabalho e
conversar sobre ética e estética do estranho, do corpo performativo e da
imaginação política. Fala Pública não é direcionada apenas a grupos de
teatro, conforme ressalta o ator, diretor e fundador do Coletivo Bruto, Paulo
Barcellos. “É para todos aqueles que buscam uma atuação política na cidade, em
seu sentido amplo. Que buscam um outro olhar e outras formas de se relacionar
no espaço comum".
Para a professora, há
várias maneiras de fazer a política, sendo o artista um dos agentes da polis.
“No caso do performer que trabalha na rua, é explícito o desejo de
experimentar, testar, praticar o viver junto, o co-habitar, o coexistir.
Particularmente, penso ser fundamental cuidar por meio de práticas artísticas
da coisa política, do pensamento político, da vida política no meio da rua”.
Uma das formas de se
comunicar, por meio da performance, seja ela atuantemente política ou não,
acontece pela estética do estranho. São “modos poéticos, estratégias
artísticas, práticas performativas que estranham o estabelecido, que estranham
padrões de comportamento, cognição, relação, fluxo. Que estranham nossas
mecânicas diárias e, as estranhando, as suspendem”, continua. Para Eleonora, o
estranho e a estranheza são modos de conhecimento e de relação, em que nasce a
poesia da performance. “Como diz Tania Rivera quando escreve sobre o trabalho
que venho desenvolvendo nas ruas, ‘o estranho não é aquele que vem perturbar o
idílio do semelhante, mas aquele que é valorizado e, ao mesmo tempo, temido,
porque tem o poder de romper as amarras de minha própria identidade e me abrir
para outra coisa – que, por falta de nome fixo, denominamos vagamente de
poesia’”.
WORKSHOP – Além da Fala
Pública, dentro do projeto Documentário Vergonha, Eleonora Fabião realiza
um workshop para artistas de Piracicaba com o tema Corpo Performativo. A
programação acontecerá nos dias 30 de abril e 1º de maio, com atores de grupos
parceiros do projeto e artistas inscritos. A professora abordará a arte da
performance por meio de análise de arquivo fotográfico e audiovisual, bem como
usando discussão conceitual e práticas psicofísicas. Quatro questões serão
tomadas como ponto de partida: o que é corpo? (questão ontológica); o que move
um corpo? (questão cinética, energética, afetiva); o que um corpo pode mover?
(questão performativa); e que corpo pode mover? (questão biopolítica). Para
isso, será usado o princípio da indissociabilidade entre teoria e prática, estética
e política, pedagogia e criação.
PERFORMER – Em 2015,
Eleonora Fabião integrou a performance No Meio da Noite Tinha um Arco-íris,
No Meio do Arco-íris Tem Uma Noite (ação 5 da Série Coisas Que Precisam Ser
Feitas). Na intervenção urbana realizada no Festival Performa, em plena Wall
Street (Nova York/EUA), um grupo faz resplandecer um arco-íris na noite da
cidade. Para tanto, são movimentados juntos sete longos bambus com lâmpadas de
tungstênio coloridas amarradas em suas pontas. Mas para Eleonora, a experiência
com performance na maior metrópole norte-americana é ainda mais antiga. Ela fez
doutorado em Estudos da Performance pela Universidade de Nova Iorque (2006).
Desde então, a teórica e
performer realiza intervenções em ruas e exposições, além de dar palestras,
workshops e publicar sobre o tema nacional e internacionalmente (Colômbia,
Peru, Argentina, EUA, Canadá, Alemanha, Noruega, Suécia, França, Portugal,
Emirados Árabes). Em 2011, recebeu o Prêmio Funarte Artes na Rua e em 2014, o
apoio do Programa Rumos Itaú Cultural, para desenvolver o Projeto Mundano. Este
resultou na publicação do livro AçõesS. É também professora do
Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena e do Curso de Direção Teatral da
Escola de Comunicação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
PROJETO - O projeto
Documentário Vergonha é uma iniciativa do Coletivo Bruto e Cooperativa Paulista
de Teatro, foi aprovada pelo ProAC, Edital 1 - Produção de Espetáculo Inédito e
Temporada de Teatro, de 2015. Corresponde ao segundo momento de uma pesquisa
que o Coletivo Bruto vem realizando em Piracicaba. A primeira parte originou o
espetáculo Mentira, que estreou em 2015. “A proposta, desta vez,
abrange a formação histórica do interior paulista – utilizando a cidade de
Piracicaba como ponto de partida e as relações sócio-econômicas que ainda
perduram como força tradicional em detrimento aos desejos ‘progressistas’”,
afirma Paulo Barcellos. Segundo ele, em Mentira foi realizada uma
leitura crítica sobre a aristocracia local por meio de uma história ficcional
com tratamento realista. “Distanciamos a história do cenário local como
estratégia dramatúrgica. Agora, neste segundo momento, ampliamos a pesquisa
visando, além da criação de um espetáculo, uma ação cultural na cidade”. Outra
vez, eles estarão sob a orientação dramatúrgica de Alexandre Dal Farra.
Essa iniciativa, de
acordo com o ator, propõe uma investigação mais envolvida com os artistas
locais e os habitantes. Além da produção de peça inédita, o projeto consiste na
ocupação artística e promoção de oficinas para a comunidade. “Propusemos uma
ocupação artística no recém-reaberto Clube 13 de Maio com ensaios, workshop,
aula aberta, aberturas de experimentos estéticos e temporada”. Assim, o projeto
consiste na ocupação teatral do espaço até setembro; workshop do grupo com
pesquisador Thiago Antunes; abertura do processo para dois estagiários;
realização de um workshop com Eleonora Fabião para o elenco de Vergonha e
grupos convidados de Piracicaba; realização de uma fala pública, aos interessados
em geral, sobre a teatralidade e performance; apresentações gratuitas de
Experimentos Vergonha 1 e 2; conversas com o público dos Experimentos; e
temporada de 15 apresentações gratuitas.
Além dos atores
fundadores do Coletivo Bruto, Paulo Barcellos e Maria Tendlau, integram o
Projeto Vergonha os atores Jorge Lode, Raul Rozados e Carla Sapuppo.
SERVIÇO
Fala Pública Performance na Rua:
Experimentação Artística e Imaginação Política, com a professora e
performer Eleonora Fabião
Local: Clube 13 de Maio.
Rua 13 de Maio, 1118.
Data: sexta-feira, dia
29 de abril
Horário: 20h
Gratuito
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