sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Finalmente, Brasil na vanguarda

O Brasil que, tradicionalmente, nunca foi um país à frente de seu tempo - muito pelo contrário, conservador até demais, compreensivelmente, se levar em conta a criação cristã da nação, - jamais criou, ou encabeçou movimentos significativos. Claro, sem contar os artísticos.

Porém, pasmem, depois de 516 anos de existência, estamos na dianteira de um movimento mundial e significativo no qual estamos puxando a fila e nos destacando como um país que se mostra, finalmente, progressivamente à frente de alguma coisa.

Não! Absolutamente, não estou falando de futebol. Nem poderia, depois do vexame da última Copa. Mesmo porque nosso auge futebolístico já remonta década e meia. Mas vamos deixar de lado essa ladainha e ir logo ao ponto que deve ser de emblemático orgulho para toda a brasilidade. Nesta semana, o Dicionário Oxford elegeu a expressão ‘pós- verdade’ como a palavra do ano de 2016. Bom, na verdade, a palavra escolhida e que é para a língua inglesa foi ‘post-truth’. Isso não importa, afinal, o que mais nós brasileiros gostamos de fazer do que copiar o inglês?

Pois bem, segundo o próprio dicionário britânico, ‘pós- verdade’ significa ‘relativo a ou que denota circunstâncias nas quais fatos objetivos são menos influenciadores na formação da opinião pública do que apelos à crença pessoal’. Ou seja, o adjetivo indica que um fato é menos importante do que aquilo que a pessoa acredita e sugere que as tomadas de decisões têm como motivação mais as emoções e visões de mundo do que o olhar para os acontecimentos.

Portanto, nada melhor do que um adjetivo que vem sendo largamente usado e praticado aqui no Brasil para provar que, finalmente, estamos na vanguarda do mundo moderno. E porque não dizer além. Sim, pois se o termo recém-cunhado foi modismo nos Estamos Unidos e na Grã-Bretanha somente neste ano, nós aqui já estamos usando, amplamente, há muito mais tempo.

Nesses dois países a palavra só ganhou popularidade neste ano e graças às campanhas do plebiscito do Brexit e da eleição americana, vencida pelo republicano Donald Trump, ambas marcadas pela disseminação de notícias falsas nas mídias sociais e de mentiras por parte dos candidatos.

A proliferação de notícias falsas na Internet durante a campanha eleitoral já era moda aqui, pelo menos, desde 2014, com o habitual uso de sites cheios de calúnias, boatos e mentiras, principalmente no Facebook e no Google, em que poucos se arriscam a ir além dos links.

Eufemismo que pode vir a significar muito coisa, pós-verdade encontrou na cultura e na política brasileira, cada vez menos envergonhada de não ter escrúpulos, campo fértil para a distribuição de falácias com as finalidades mais escusas. O dia a dia das redes sociais tem nos mostrado isso frequentemente.

Em qualquer lugar do mundo, o advento das redes sociais, que aceitam qualquer tipo de informação, contribuiu para proliferar a quantidade de notícias falsas e mentirosas, potencializando seus efeitos que, infelizmente, ganham destaque mesmo não tendo o menor fundamento. Na era da pós-verdade, não importam os fatos objetivos, que são pouco ou nada relevantes, mas sim ganhar a discussão. A verdade é secundária.

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