O Brasil que, tradicionalmente, nunca foi um país à frente de seu
tempo - muito pelo contrário, conservador até demais, compreensivelmente, se
levar em conta a criação cristã da nação, - jamais criou, ou encabeçou
movimentos significativos. Claro, sem contar os artísticos.
Porém, pasmem, depois de 516 anos de existência, estamos na dianteira
de um movimento mundial e significativo no qual estamos puxando a fila e
nos destacando como um país que se mostra, finalmente, progressivamente à
frente de alguma coisa.
Não! Absolutamente, não estou falando de futebol. Nem poderia,
depois do vexame da última Copa. Mesmo porque nosso auge futebolístico já
remonta década e meia. Mas vamos deixar de lado essa ladainha e ir logo ao
ponto que deve ser de emblemático orgulho para toda a brasilidade. Nesta
semana, o Dicionário Oxford elegeu a expressão ‘pós- verdade’ como a palavra do
ano de 2016. Bom, na verdade, a palavra escolhida e que é para a língua inglesa
foi ‘post-truth’. Isso não importa, afinal, o que mais nós brasileiros gostamos
de fazer do que copiar o inglês?
Pois bem, segundo o próprio dicionário britânico, ‘pós- verdade’
significa ‘relativo a ou que denota circunstâncias nas quais fatos objetivos
são menos influenciadores na formação da opinião pública do que apelos à crença
pessoal’. Ou seja, o adjetivo indica que um fato é menos importante do que
aquilo que a pessoa acredita e sugere que as tomadas de decisões têm como
motivação mais as emoções e visões de mundo do que o olhar para os
acontecimentos.
Portanto, nada melhor do que um adjetivo que vem sendo largamente
usado e praticado aqui no Brasil para provar que, finalmente, estamos na
vanguarda do mundo moderno. E porque não dizer além. Sim, pois se o termo
recém-cunhado foi modismo nos Estamos Unidos e na Grã-Bretanha somente neste
ano, nós aqui já estamos usando, amplamente, há muito mais tempo.
Nesses dois países a palavra só ganhou popularidade neste ano
e graças às campanhas do plebiscito do Brexit e da eleição americana, vencida
pelo republicano Donald Trump, ambas marcadas pela disseminação de notícias
falsas nas mídias sociais e de mentiras por parte dos candidatos.
A proliferação de notícias falsas na Internet durante
a campanha eleitoral já era moda aqui, pelo menos, desde 2014, com o
habitual uso de sites cheios de calúnias, boatos e mentiras, principalmente no
Facebook e no Google, em que poucos se arriscam a ir além dos links.
Eufemismo que pode vir a significar muito coisa, pós-verdade
encontrou na cultura e na política brasileira, cada vez menos envergonhada
de não ter escrúpulos, campo fértil para a distribuição de falácias com as
finalidades mais escusas. O dia a dia das redes sociais tem nos mostrado isso
frequentemente.
Em qualquer lugar do mundo, o advento das redes sociais, que
aceitam qualquer tipo de informação, contribuiu para proliferar a quantidade de
notícias falsas e mentirosas, potencializando seus efeitos que, infelizmente,
ganham destaque mesmo não tendo o menor fundamento. Na era da pós-verdade, não
importam os fatos objetivos, que são pouco ou nada relevantes, mas sim
ganhar a discussão. A verdade é secundária.
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