A ducha de água fria causada pelo
cancelamento do desfile da Banda da Sapucaia - que abriu o
Carnaval em Piracicaba por 21 anos consecutivos e cuja 22ª
edição foi cancelada na véspera, no último sábado - não pode
desmotivar os foliões. Afinal, a Sapucaia nasceu de uma forma muito
saudável e foi crescendo com o passar do tempo. Como tudo nesta vida tem
que evoluir para sobreviver, o desfile se tornou
grande demais e passou a necessitar de mais atenção do
poder público. Porém, sem uma parceria efetiva entre a organização da
banda, a prefeitura e demais órgãos competentes,
não "sapucaiamos" neste ano. A lição é dura, mas tem que ser
aprendida por todos os lados.
Com ou sem Sapucaia, neste ano, Piracicaba tem tudo
para ter um Carnaval de rua melhor do que o dos últimos anos, quando havia o
patrocínio das agremiações carnavalescas e escolas de samba. Sem dinheiro para
investir em desfiles, a prefeitura vai contribuir com a programação ao
incentivar a folia em locais públicos. Oficialmente, serão nove atrações
musicais que devem movimentar a cidade entre os dias 9 e 13 de fevereiro. Os
grupos se apresentarão no Engenho Central e no Largo dos Pescadores,
sempre com entrada gratuita.
Porém, meu otimismo se sustenta na concorrência que as
escolas de samba impunham para o surgimento dos blocos, e que deixa de existir
com a extinção dos desfiles na avenida, arejando a possibilidade de os blocos
se desinibirem e irem para a rua - não apenas na região central, mas
por toda a cidade.
As pessoas estão ansiosas por retomar para a rua. Nos
últimos anos, as grandes cidades do país assistem ao crescimento de movimentos
independentes que pregam a ocupação e a retomada do espaço público. São
cidadãos reivindicando o direito de se manifestar em eventos e atividades
coletivas em praças públicas, organizando festas de rua, por exemplo.
De forma ainda tímida, isso vem acontecendo em Piracicaba,
com alguns poucos blocos surgindo durante o Carnaval, mas acredito que isso vai
aumentar e esses agrupamentos passarão a ocupar outros espaços
públicos, criando assim uma prática saudável, aumentando a quantidade de participantes
e transformando esse movimento em um fenômeno cultural. Cito como exemplo
os blocos Pira Pirou e dos Boçais, que parecem estar crescendo, como
os clássicos Cordão do Mestre Ambrósio e o Bloco da Ema.
O simples fato de as pessoas se reunirem em blocos
já mostra o desejo de estarem juntas, se opondo a um modelo de
Carnaval excludente e individualista. E, aos quem forem para a
rua, estará claro que quem faz a festa são todas elas juntas, agrupadas em
bloco ou não, mas na rua, nas
praças, nos largos, nos parques, enfim, nos espaços
públicos, celebrando o Carnaval!
Torço para que as vias da cidade sejam tomadas por foliões
fantasiados, trios-elétricos, carros de som e rodas de samba. Afinal,
o Carnaval nasceu nas ruas, costurado pelas mãos do povo e
trilhado pelos pés de gente alegre que deseja se divertir.
Infelizmente, com o tempo, a festa migrou para
clubes e/ou foi institucionalizada em sambódromos. Em
Piracicaba, ela se manteve na avenida Armando de Salles Oliveira, local
que se tornou inviável. Retornar às práticas de origem é saudável e esse
espírito de retomada do espaço urbano pode ajudar a trazer de volta um
fenômeno social, mesmo porque, quando falamos de Carnaval nos referimos
a maior expressão popular da cultura do país!
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