quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Por um Carnaval que leve o povo para a rua

A ducha de água fria causada pelo cancelamento do desfile da Banda da Sapucaia - que abriu o Carnaval em Piracicaba por 21 anos consecutivos e cuja 22ª edição foi cancelada na véspera, no último sábado - não pode desmotivar os foliões. Afinal, a Sapucaia nasceu de uma forma muito saudável e foi crescendo com o passar do tempo. Como tudo nesta vida tem que evoluir para sobreviver, o desfile se tornou grande demais e passou a necessitar de mais atenção do poder público. Porém, sem uma parceria efetiva entre a organização da banda, a prefeitura e demais órgãos competentes, não "sapucaiamos" neste ano. A lição é dura, mas tem que ser aprendida por todos os lados.

Com ou sem Sapucaia, neste ano, Piracicaba tem tudo para ter um Carnaval de rua melhor do que o dos últimos anos, quando havia o patrocínio das agremiações carnavalescas e escolas de samba. Sem dinheiro para investir em desfiles, a prefeitura vai contribuir com a programação ao incentivar a folia em locais públicos. Oficialmente, serão nove atrações musicais que devem movimentar a cidade entre os dias 9 e 13 de fevereiro. Os grupos se apresentarão no Engenho Central e no Largo dos Pescadores, sempre com entrada gratuita.

Porém, meu otimismo se sustenta na concorrência que as escolas de samba impunham para o surgimento dos blocos, e que deixa de existir com a extinção dos desfiles na avenida, arejando a possibilidade de os blocos se desinibirem e irem para a rua - não apenas na região central, mas por toda a cidade.

As pessoas estão ansiosas por retomar para a rua. Nos últimos anos, as grandes cidades do país assistem ao crescimento de movimentos independentes que pregam a ocupação e a retomada do espaço público. São cidadãos reivindicando o direito de se manifestar em eventos e atividades coletivas em praças públicas, organizando festas de rua, por exemplo.

De forma ainda tímida, isso vem acontecendo em Piracicaba, com alguns poucos blocos surgindo durante o Carnaval, mas acredito que isso vai aumentar e esses agrupamentos passarão a ocupar outros espaços públicos, criando assim uma prática saudável, aumentando a quantidade de participantes e transformando esse movimento em um fenômeno cultural. Cito como exemplo os blocos Pira Pirou e dos Boçais, que parecem estar crescendo, como os clássicos Cordão do Mestre Ambrósio e o Bloco da Ema.

O simples fato de as pessoas se reunirem em blocos já mostra o desejo de estarem juntas, se opondo a um modelo de Carnaval excludente e individualista. E, aos quem forem para a rua, estará claro que quem faz a festa são todas elas juntas, agrupadas em bloco ou não, mas na rua, nas praças, nos largos, nos parques, enfim, nos espaços públicos, celebrando o Carnaval!

Torço para que as vias da cidade sejam tomadas por foliões fantasiados, trios-elétricos, carros de som e rodas de samba. Afinal, o Carnaval nasceu nas ruas, costurado pelas mãos do povo e trilhado pelos pés de gente alegre que deseja se divertir.


Infelizmente, com o tempo, a festa migrou para clubes e/ou foi institucionalizada em sambódromos. Em Piracicaba, ela se manteve na avenida Armando de Salles Oliveira, local que se tornou inviável. Retornar às práticas de origem é saudável e esse espírito de retomada do espaço urbano pode ajudar a trazer de  volta um fenômeno social, mesmo porque, quando falamos de Carnaval nos referimos a maior expressão popular da cultura do país! 

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