terça-feira, 23 de abril de 2024

Casal faz cerveja dentro do apartamento

Cerveja foi batizada de Lei Seca

Camila de Souza Guedes Bahia e Robelio Bonora Neto formam uma família como muitas que conhecemos. Um casal de classe média que, uma vez casados, dividem o mesmo lar. Ele projetista, ela psicóloga e nada mais normal do que isso. Até o surgimento da Covid 19.

Maior parte da produção do casal, Camila e Robelio, é para consumo próprio

O isolamento social fez com que os dois moradores de Piracicaba investissem o tempo da quarentena forçada em um novo e inusitado passatempo para driblar a falta de convivência com familiares e amigos: começaram a produzir cerveja artesanal dentro do próprio apartamento para driblar as limitações impostas pelo coronavírus.

Na verdade, a primeira cerveja foi feita no dia 7 de março de 2020, dois dias antes do anúncio mundial que decretou do estado de pandemia, em 11 de março. “Parece que foi como um presságio, porque de lá pra cá seguimos fazendo e aprimorando as receitas”, confidenciou Camila.

A parte da fervura é feita no fogão da cozinha

Quem conhece os meandros da alquimia cervejeira sabe que a produção de cerveja caseira não é nem algo extraordinário, porém, Camila e Robelio moram em um apartamento de 50m2 e é exatamente entre os utensílios domésticos e os afazeres do dia-a-dia que os dois se desdobram para fabricar seu precioso produto.

Dedicando-se a arte de fazer cerveja em casa há quatro anos, o casal produz de 20 a 28 litros em cada brassagem, termo usado para denominar o processo de produção de cerveja artesanal.

Balde utilizado para resfriamento

“Desde quando começamos, já realizados 10 brassagens e produzimos diferentes tipos e estilos de cerveja. Cada uma possui um desafio diferente, mas a mais repetida é a receita da Session IPA, que é a nossa preferida”, contou.

Adição de lúpulo

A parte inicial da fabricação da cerveja começa na cozinha, por conta do fogão que lá se encontra e pela necessidade da fervura - primeiro passo no processo de produção. Já a lavanderia é usada para decantação e o resfriamento do caldo.

Método utilizado é o BiaB (Brew in a Bag)

Como tudo tem que ser bem dimensionado, a água que sobra desse processo é usada para lavar o quintal e a cozinha. Na sala, onde estão duas geladeiras e um freezer vertical, são depositados os tonéis de cerveja que estão em fase de fermentação, em temperatura controlada.

Depois de fervido o saco é içado da panela

“Queremos aumentar a frequência na produção e estamos precisando de uma outra geladeira para fazer a fermentação à frio dos pães, mas ainda não sabemos onde colocar. São dois processos distintos, já que cerveja precisa de uns 20 dias para fermentar, mas o pão é mais rápido”, explicou Camila.

Geladeiras e freezer ficam na sala

O procedimento adotado pelo casal é pelo método BiaB (Brew in a Bag), que é uma forma mais simples e barata para os cervejeiros fazerem a transposição do líquido e a separação da parte sólida, resíduo gerado pelos grãos de cevada fervidos.

Fermentação é feita em geladeira com temperatura contraroda

Essa técnica utiliza um saco, costurado como uma fronha, que é imerso em sua totalidade do interior da panela e, após a fervura, deve ser fechado por um cordão ou laço na parte superior para permitir que o saco seja içado e, assim, faça a filtragem da cerveja. Fazendo assim a separação do mosto, que é a mistura do malte aquecido na água fervente.

Processo de fermentação leva vários dias

Após a separação do malte filtrado, o restante do material retido no filtro que sobra no saco, durante a filtragem, é a rica matéria prima utilizada para se fazer os pães, a outra obra do casal que tem uma loja virtual no Instagram para a venda de seus produtos de panificação artesanal provenientes de fermentação natural (@vive_levain), mas essa história eu conto mais para baixo.

Malte que sobra da fervura e é coado serve como matéria prima para fazer pão

Voltando a fabricação de cerveja, ainda há o processo de fermentação que pode variar conforme o estilo produzido e, após tudo isso, com a cerveja já pronta para ser apreciada, ainda tem que se fazer o enchimento das garradas. “Essa, realmente, é a última etapa do processo de produção, quando finalmente envasamos a cerveja”, disse Camila.

Envase de cada garrafa é feito individualmente

“Como o apartamento fica no térreo temos uma área externa, que é utilizado como um ‘quintal’, já que a lavanderia fica dentro da cozinha. Mas, como temos esse espaço, colocamos a máquina de lavar para fora e usamos para estender a roupa e também para o lazer, onde degustamos o fruto de nossa criação”, completou Camila.

Pão de fermentação natural é vendido pelo Instagram @vive_levain

Nome transgressor

Como toda boa cerveja artesanal tem que ter um nome diferente e sugestivo, Camila e Robelio batizaram seu produto de Lei Seca, para lembrar a norma que entrou em vigor em 1920, nos Estados Unidos, proibindo a produção de bebidas alcoólicas. Estabelecida por pressão de grupos religiosos, a lei visava à redução da criminalidade, mas teve efeito contrário.

“É um nome transgressor, já que na essência temos uma produção que dá um ar de ilegalidade, até mesmo porque a cerveja ainda é caseira e feita em ‘fundo de quintal’. Tanto que há um policial na imagem do rótulo obrigando os cervejeiros a descartarem o produto”, confidenciou Camila.

Transição de carreira e inovação

Com a panificação e o desejo de mudar de área de atuação para desenvolver novas habilidades, Camila enxergou uma nova oportunidade para empreender e mudar de carreira profissional. A ideia prosperou tanto que um dos pães mais inusitadas, e que apresenta inovação no processo, é o que traz malte em sua receita.

“Temos um dos pães, que chamamos de cervejeiro, que é feito com o resíduo de malte que sobra da filtragem no processo de fabricação da cerveja e que o transformamos em farinha”, confidenciou.

Ou seja, matéria prima não falta nessa padaria e o método é o pain au levain, ou o pão de fermentação natural. “O pão e a cerveja se assemelham bastante, pois ambos são compostos basicamente de grãos, água e fermento, tanto que a cerveja alimenta e é chamada por muitos de pão-líquido”, completou a padeira cervejeira.



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